Há exatos oito dias se foi a última da geração de Barbie. Fora uma pet Dachshund (da famosa salsicha do comercial dos amortecedores Cofap), vinda do Rio de Janeiro para João Pessoa. Era uma lady. Tinha um jeito de ser que encantava a todos; como se tivesse tido aula de etiqueta, de como ser agradável, educada, amável.
Do namoro com um paraibano, pasmem, de nome Sarney, surgiu três, aliás, quatro filhotes, que me fizeram dormir por três dias no chão da sala junto a eles, cuidando pra que a mãe não os esmagasse. Olha só. Eu querendo ensinar a mãe natureza.
O maior, machinho, de tão grande morreu no parto. Dos três que vingaram, demos a uma das femeazinhas o nome carinhoso de bebinha, por andar trôpega das pernas; morreu logo após de leishmaniose, restando Meg e Tell.
Tell foi ser bem amado pela família Guimarães do Vale. Até chegar o tempo dele se ir, de velhice, há uns três anos. Digamos que também por falência múltipla dos órgãos. Mas a Meg, não sei se porque a mulher em todos os reinos é mais forte do que o homem, resistiu até a primeira hora da madrugada do último primeiro de Maio.
Sua avó ficou do seu lado até a hora final. Fui avisado, e como avô, corri a providenciar o local para o sepultamento. Porém, pelo avançado da hora, não consegui falar com Vando, o quebra-galhos da vizinhança; então tentei cavar, mas pelo terreno ser pequeno, além de próximo a casas, poderia não surtir o efeito prático, tendo que desenterrar por conta do mau cheiro.
Foi daí que a avó e o tio avô, meu filho, enrolaram-na num lençol, depois num saco, e após muito relutar, aceitamos o conselho do meu sobrinho e levamo-la para um local a esmo, onde muitos fazem isso mesmo. Posto não ter como esperar pelas primeiras horas da manhã, pois já cheirava muito mal.
Chegamos no local que se mostrou como um lixão a céu aberto. Quis pô-la mais adentro, mas não tinha como ser possível sem ter de transpor entulhos. Ambiente escuro, poderia pisar num prego, e para evitar o pior, arremessei-a da minha mão.
Além de pelo fatídico, após chegar em casa, passei boa parte da madrugada, tentando justificar aquele ato falho. “É, as pessoas cremadas tem as cinzas do corpo também jogadas ao mar, nas montanhas...". Mas não teve jeito meus olhos secaram de sono... meu coração estava cheio de lembranças.
Deu-me vontade de chorar, porque pareceu como um casal que se despede empurrando o outro pelas costas, ao invés de se despedirem dando-se as mãos, com a pontinha dos dedos se tocando até o final. Se tivesse segurado mantendo contato do saco com a terra, e feito repousar, teria sido diferente. Mas não, teve um espaço do saco para minha mão e depois para a Terra.
Não sei se estou me fazendo entender mas quando a gente cria pet, seja cachorro, gato, jabuti, coelho, pintinhos coloridos, realmente eles passam a fazer parte de nossas vidas; vivem como se estivessem realmente sendo cuidados por Noé’s, dentro de arcas.
O que posso dizer mais sobre Meguizinha? Nesses vinte anos de vida, equivalente a 96 de idade dos seres humanos. Se não, que foste feliz e nos fizeste mais humanos. Siga em paz, e se existir céu de cachorros reencontraremos todos. Pois duvido que essa nossa dúvida de criança, não perdure até nossa velhice.
Charles Thon
Pastor/Doutor em Teologia
Especialista em Direitos Humanos
Membro: Global Academy Of Letters
João Pessoa, 08/05/25, Outono Brasileiro.
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