BENGALA SEGURA Baseado em Para Mãos Inseguras

Queria neste Dia dos Namorados, não ter que falar de coisas tristes. Apenas cantarolar o bordão, cajado, bengala, do poema de Florbela Espanca, eternizado pelo imortal Fagner, das Eternas Ondas do Mucuripe.

Contudo, “Trouxe de onde essa bengala? Você quer quanto pela peça? É feita de qual material? Pertenceu a quem?”. “Não sei. Só quero vender pra comprar o que preciso. Pague o que o senhor achar que vale.”

As almas se revolveram nas suas lápides e se removeram para aquela atmosfera de negociação com objeto alheio, que não se estava dando a devida importância. Qual o quê, algo deveria ser feito. Vamos lá agora. Fuuu!!!

Chegaram bem na hora do pagamento, meros cinquenta reais. Uma delas questionou qual valor seria, fosse no seu tempo dos derréis? Outra disse que não seria pouco, posto aquela peça de metal bronzeado, pelo seu significado, não tinha preço.

A preocupação agora, se dava em buscar um meio de evitar que as hermas de vultos pátrios de cor dourada, sejam confundidas com o metal nobre. Muito embora, a Rua e Seus Ramalhetes, se postas sobre os pedestais, viesse a disfarçar o brilho instigante.

Pena, não tem jeito. As almas não penadas, poderiam agora, apenas emitir ondas a fim de que aquela transação escusa não se concretizasse e a bengala voltasse a seu legítimo dono. Se ao menos pudessem pegar novamente nas penas e escrever um recado...

Quiçá ao mesmo juiz que aceitou a petição em versos do imortal poeta/advogado campinense, por emitir também em versos o Habeas Pinho, livrando das grades o inocente violão, para felicidade do seu menestrel, e da sua amada na janela, sob as gotas de orvalho.

Mas não teve jeito. Mesmo as duras penas, testemunharam a batida do martelo, e o dinheiro inserido no bolso do vendedor sem sonhos. Coube-lhes apenas torcer para aqueles imortais ainda vivos, possam evitar o voo sem asas do Augusto Anjo. 

Charles Thon
Pastor/Doutor em Teologia
Especialista em Direitos Humanos
Membro: Global Academy Of Letters
João Pessoa, 12/06/25, Outono Brasileiro.